Eça de Queirós
"(...) Carta sua só me satisfaria uma bem longa, bem franca, em que, pondo de parte toda a inútil reserva, me abrisse o seu coração.
Eu é que não preciso fazer o mesmo. O que eu sinto não seria para ti uma coisa nova de que necessitasse uma clara afirmação; é o mesmo que eu sentia quando passeávamos mas areias da West Cost. Ou antes, não é o mesmo sentimento: é outro mais belo, mais completo; porque tendo, apesar de tudo, ficado comigo, desde que nos separamos, e tendo sido o doce e fiel companheiro da minha vida desde então - esse sentimento penetrou-me de um modo mais absoluto e mais absorvente, exaltou-se e idealizou-se, e de tal sorte me invadiu todo que eu cheguei a não ter pensamento, idéia, esperança, plano, a que não estivesse misturada a sua imagem.
(...) Dizer por que é que eu, apesar de tudo, insistia em pensar em si, não sei. O facto de não serem dependentes da vontade os movimentos do coração - não é uma suficiente explicação: - porque eu podia resistir à importunidade desta idéia, e em lugar disso abandonava-me a ela como à minha única alegria. - Devo portanto concluir que havia um pressentimento latente, uma vaga quase certeza, uma fé secreta de que a afinidade que existe entre as nossas naturezas se viria um dia a manifestar apesar de tudo, e mais tarde ou mais cedo nos aproximaria e para sempre.
(...)
O amor por si só é decerto uma companhia - mas não chega à companhia daquela que se ama."
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